Entenda a Moda Sustentável e Amplie seu Papel como Consumidor Consciente

Quem acompanha a trajetória do AB já esperava o momento em que eu viesse a abordar moda sustentável com maior frequência, não? Pois bem, além do tópico “Moda Sustentável”, vamos também conversar um pouco sobre o desenvolvimento de nossa postura como consumidores conscientes.

Moda Sustentável Insecta Shoes Sapatos veganos PET reciclada

Foto: Insecta Shoes

Sustentabilidade não é tendência, é urgência

Consumir produtos que se aproximem o máximo possível ao ciclo primário de produção.

Ao entender a real dimensão da frase anterior percebemos que tal opção vai além de preferências, é posicionamento ideológico. Saber o quanto nossas escolhas refletem diretamente sobre aspectos socioambientais, ter ciência do quão degradante é a cadeia de produção da indústria majoritária, tomar posse do seu papel enquanto indivíduo de representação coletiva quem pode – e deve – se impor como consumidor consciente e ciente da tamanha opressão desaguada sobre nosso modelo de consumo a qual não apenas oprime, mas também estreita nossa liberdade de escolha ao passo em que nos oferece opções limitadas, opor-se ao modelo e dizer: “Não concordo e não irei fazer parte disso!”. Quando assimilamos esse tipo de pensamento entendemos que sustentabilidade não é tendência, é urgência. Quando assimilamos esse tipo de pensamento mudamos nossa forma de pensar o consumo e – quer seja de forma paulatina, quer seja abruptamente – passamos a aplica-la nos mais diversos aspectos de nossa vida.

Quando entendi que me preocupar em separar o lixo, utilizar embalagens retornáveis, carregar uma ecobag e consumir alimentos orgânicos não seria suficiente se a minha rotina diária de beleza estivesse abarrotada de produtos advindos de empresas cuja cadeia de produção envolvesse procedimentos não éticos a meu ver, cujas composições contivessem ativos potencialmente prejudiciais à saúde e ao ecossistema, comecei a rever meu necessaire (Saiba mais em Slow Beauty – Vídeos). Agora vem-me a necessidade de rever outros aspectos de minha postura enquanto consumidora, e é exatamente sobre um deles que iremos falar hoje: moda sustentável.

Tiê moda sustentável camiseta aldodão e PET reciclado 2

[disclaim]Foto: Tiê Moda Sustentável. A Tiê é uma marca 100% brasileira de moda sustentável feminina e masculina a qual fabrica seus produtos de forma a acarretar o menor impacto possível ao meio ambiente, utilizando materiais reciclados, orgânicos ou de manejo, onde não há geração de resíduos. A marca carrega uma forte ideologia a qual não para em sua cadeia produtiva, mas também reside em propagar o consumo consciente por meio de ações diferenciadas focadas na conscientização do consumidor final.[/disclaim]

Moda Sustentável: Desenvolva suas práticas de consumo consciente

A forma como nos vestimos não é apenas uma questão estética, é um meio de comunicação, é uma das primeiras impressões que passamos ao mundo acerca dos nossos gostos e postura. De que adianta levantar bandeira em prol de alimentos e cosméticos Naturais & Orgânicos se não nos perguntarmos de onde vem, como e por quem é feita a roupa que nos cobre?

Ademais, pouco adianta tudo isso se não repensarmos a forma e a velocidade com a qual enfiamos goela abaixo as tendências sazonais.

Moda Sustentável x Sazonalidade (Slow fashion x Fast Fashion)

O berçário dos modismos é tão movimentado quanto seu cemitério. As marcas não se contentam em lançar coleções de primavera/verão e de outono/inverno, há Alto-Verão, há Alto-Inverno, há as coleções capsulas, há as edições especiais, todas vindo em sobreposição como se anulassem a validade da coleção anterior. Quando colocamos na equação as grandes lojas de Fast Fashion, a sazonalidade é ainda mais evidente, a cada semana chegam novas coleções para re-colorir as araras e atiçar desejos de consumo.

Além de uma cadeia produtiva sustentavelmente formada, cabe também às marcas ter responsabilidade para com seus consumidores e viabilizar produtos de forma igualmente sustentável. Há quem possa retrucar com argumentos como “Nós apenas produzimos, compra quem quer”. Sim, compra quem quer, porém o querer é uma construção conjunta no que concerne à relação de oferta e demanda. Quando uma marca se isenta perante os impactos de uma oferta demasiada sobre os consumidores não está respeitando a cadeia cíclica da sustentabilidade tampouco propagando devidamente tal ideologia.

Urge mudanças de posturas de ambos os lados. Cabe a nós nos desvencilharmos da oferta demasiada, cabe às empresas assumirem sua responsabilidade social controlando a demanda por meio da oferta.

Ursula Carvalho, Estilista e Diretora de Operações da Tiê, marca nacional de moda sustentável, ilustra bem como se dá essa mudança de atitude: “Temos duas coleções anuais – verão e inverno – , baseadas nas mudanças climáticas dessas duas estações. As roupas que “sobram” de uma coleção, são incorporadas na seguinte, sem que isso fique com cara de uma peça ultrapassada. E sabe porquê? Porque buscamos um design mais atemporal, em formas, em estampas, em detalhes diversos. Com coleções menos datadas, temos coleções menos descartáveis, com roupas que podem ser usadas sempre, independente da temporada vigente.”.

Moda Sustentável Maria Nuvem e Santa Expedita

[disclaim]Foto: Maria Nuvem e Santa Expedita. As marcas resultam do trabalho conjunto de duas amigas. Leveza, movimento e atemporalidade são características evidentes. Suas peças são produzidas por meio de um processo artesanal cuja matéria prima são tecidos naturais, leves e delicados, principalmente a viscose.[/disclaim]

Industria da Moda: Problemática socioambiental

No que concerne à moda, desde o plantio do algodão até a etapa final da confecção da peça e problemáticas derivadas da comercialização: os impactos decorrentes da produção percorrem toda a cadeia produtiva têxtil. O cultivo do algodão, por exemplo, em virtude da grande quantidade de pesticidas, inseticidas e fertilizantes empregados para a obtenção da fibra, acarreta contaminação da água, do solo e da fauna local. Os processos de beneficiamento e acabamento (alvejar e tingir produtos têxteis) consomem um volume gigantesco de água. Ao longo da cadeia produtiva têxtil, os impactos ambientais envolvem contaminação do solo, consumo de água, de energia, emissões atmosféricas de poluentes e resíduos sólidos.

Em relação à última etapa, a confecção, os retalhos causam um impacto altamente significativo e não perceptível. No Brasil, a estimativa de resíduos têxteis é da ordem de 175 mil toneladas/ano. Desse total, apenas 36 mil toneladas são reaproveitadas na produção de barbantes, mantas, novas peças de roupas e fios (TURCI, 2012). Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (ABIT) na região do Bom Retiro, diariamente são descartados inadequadamente 12 toneladas de resíduos têxteis (retalhos) produzidos por mais de 1,2 mil confecções. A coleta dos retalhos é realizada de forma desorganizada, sem preocupação com a destinação adequada.

No aspecto social observamos o grave problema da mão de obra explorada de maneira análoga ao trabalho escravo, prática presente em grandes cadeias que terceirizam a produção e, sendo assim, não se responsabilizam sobre a questão porque consideram que o problema não faz parte de suas alçadas diretas.

– Saiba mais sobre o assunto em “Moda a Qualquer Custo” da revista virtual AzMina.

Moda Sustentável Insecta Shoes Sapatos veganos

[disclaim]Foto: Insecta Shoes. A Insecta Shoes produz sapatos veganos (sem nenhum uso de materiais com origem animal) por meio de um processo artesanal e com tecidos advindos da reciclagem de garrafas PET, algodão residual, e reaproveitamento Upcycling de peças garimpadas em brechós. Suas solas são de borracha triturada, suas estampas são desenvolvidas internamente e impressas com tinta à base d’água, que é menos poluente e, como se não bastasse, conforto é uma das características destes “Besouros”.[/disclaim]

Moda Sustentável: Soluções alternativas

Todos os produtos são naturais, afinal, a primeira fonte de energia molecular sempre será a mãe natureza. Quando tratamos de sustentabilidade a questão reside em como produzir e consumir com menos agressão ao ecossistema e às comunidades que dependem dele para sobreviver, em como gerar menos lixo ao planeta ou um lixo que participe da cadeia natural de degradação. Um lixo ecologicamente correto é aquele que em no máximo 10 anos volte a ser átomos. Sendo assim cada geração será responsável pelo lixo que fabricou. Aqui retomamos a importância da primeira frase deste artigo: consumir produtos que se aproximem o máximo possível ao ciclo primário de produção.

Todavia sabemos que já nos encontramos numa conjuntura em que o lixo produzido por nós consistem em macromoléculas que demoram centenas de anos para se decompor. Soluções alternativas da moda sustentável – Reutilização, Reciclagem e Upcycling – se encaixam perfeitamente como meios de melhorar tal situação.

Moda Sustentável: Reutilização

De fato, o termo “Reutilização” carrega um significado tão amplo que poderia agregar os dois outros termos seguintes. Mas iremos restringir para a nossa relação pessoal com as nossas roupas.

Bom, primeiramente cabe a primeira observação: Roupas não são descartáveis.

Aquilo que não lhe serve mais (quer seja por mudança de gosto, quer seja por mudanças corporais) pode servir a outra pessoa e vice-versa. Mergulhar no maravilhoso mundo dos brechós e das trocas entre amigos é uma forma de circular a energia parada em peças não usadas e de renovar a energia presente em seu guarda-roupas sem gastar muito tampouco colocar mais matéria em utilização no mundo.

Ademais, tenha em mente que uma peça não é estática, você pode customizá-la a fim de torna-la melhor cabível às suas preferências. Customização é um meio de reutilizar/renovar tanto algo que você já possui quanto algo adquirido em brechós ou trocas.

– Escrevi mais sobre brechós e troca de roupas no post “Como ganhar dinheiro com roupas e acessórios que você não usa”.
– Saiba mais em “A Nova Era Dos Brechós: Buscando No Passado Soluções Para O Futuro” na revista virtual Mode.fica.

Moda Sustentável: Reciclagem

Conforme vimos nos dados acima, os resíduos acarretados por retalhos não utilizados na indústria têxtil é um problema ambiental tamanho. Algumas marcas de moda sustentável lançam mão de tecidos gerados por meio do desfibramento do algodão, processo proveniente da reciclagem de tecidos e malhas dessa fibra. Além dos retalhos, outro grande problema de descarte se dá com garrafas PETs. Garrafas PETs recicladas podem gerar um fio de poliéster de alta qualidade em processos que não utilizam agentes químicos nocivos nem uso abusivo de água.

– Saiba mais sobre matérias primas sustentáveis da indústria têxtil em “Materiais e processos sustentáveis em terras brasileiras” no Blog Tiê.

Tiê moda sustentável camiseta aldodão e PET reciclado

[disclaim]Foto Camiseta Tiê: Feita com matéria-prima reciclada, produzida de algodão e garrafas PET. A cada 2 garradas PET de 2 litros, é possível extrair material o suficiente para fabricar o tecido de uma camiseta. A arte estampada é feita em processo digital, gerando menos resíduos e menos desperdício de água em comparação ao silk tradicional.[/disclaim]

Moda Sustentável: Upcycling

O Upcycling é um meio de reaproveitamento sem modificação da matéria prima, é aproveitar algo sem valor comercial o qual seria descartado e transformá-lo em algo diferente, com novo uso e propósito, sem passar pelos processos transformadores químicos e físicos da reciclagem. Retalhos de tecidos e de couro os quais seriam descartados pela grande indústria viram roupas e bolsas, latinhas viram acessórios, e por aí vai por onde a imaginação permitir.

– Saiba mais em “E Afinal, É Reciclagem Ou Upcycling?”. 

Moda Sustentável Gabriela Mazepa é um exemplo de Upcycling

[disclaim]Foto: Gabriela Mazepa. A estilista brasileira Gabriela Mazepa é um exemplo de Upcycling empregado à moda, com seu projeto Re-Roupa, ela busca a transformação através das roupas em um processo criativo que foge do tradicional. Seus produtos são feitos a partir de tecidos que seriam descartados pela indústria e criam forma pelas mãos de costureiras empreendedoras de comunidades do Rio de Janeiro. Ela e sua equipe demonstram a preocupação com o consumo consciente ao desenvolver produtos que tem uma trajetória clara, informando ao público a origem dos materiais que são utilizados e a maneira como são confeccionados.[/disclaim]

Segue abaixo uma animação linda ilustrando o processo de produção da Insecta Shoes, marca que se utiliza tanto da Reciclagem quanto do Upcycling.

Como fazer sapatos veganos e ecológicos / How to make sustainable vegan shoes from Insecta Shoes on Vimeo.

Moda Sustentável: Manufatura Consciente

Além das matérias primas, não há como deixar de mencionar o processo de confecção das peças. Marcas de moda sustentável lançam mão de meios alternativos de produção visando gerar menos impacto social ao passo em que fomentam o trabalho de pequenos produtores. Peças artesanais feitas por mãos de costureiras locais e/ou comunidades carentes é um exemplo.

Chega de trabalho análogo ao escravo. É inadmissível que isso ocorra.

Dica: App Moda Livre – Tenha em mãos um meio de consultar se a marca que você pretende comprar é classificada com sinal verde, vermelho ou amarelo para o trabalho análogo à escravidão. Não há o cadastro de todas as marcas existentes na face da terra, mas há uma lista satisfatória.

– Moda Livre para Android. 
– Moda Livre para IOS. 

Moda Sustentável o que é eco fashion

Moda Sustentável: Slow Fashion – Atemporalidade e Versatilidade

Falamos sobre redução de impacto em termos diretos, mas a Moda Sustentável também abarca aspectos conceituais que visam prevenção de impacto socioambiental ao estimular a redução do consumo descabido por parte de seu consumidor. É claro que toda empresa tem o objetivo de lucrar, mas nem todas acreditam que o lucro deve vir a qualquer custo.

Marcas de moda sustentável – ao menos aquelas que conheço – não apenas lançam mão de matérias primas sustentáveis, mas também de designs e coleções pautadas no Slow Fashion, movimento de moda sustentável criado pela inglesa Kate Fletcher em oposição ao fast fashion.

O Slow Fashion traduz para a moda os conceitos do pioneiro Slow Food: consumo consciente, valorização da cadeia de produção, sustentabilidade socioambiental, e diversidade.

Em termos práticos, coleções desenvolvidas sobre os pilares do Slow Fashion trazem peças versáteis produzidas com materiais de qualidade e design atemporal, dessa forma as coleções não se tornam datadas e as peças que adquirimos podem ser usadas por anos sem cair no démodé. Além disso dificilmente encontramos marcas de slow fashion que lançam diversas coleções por ano, isso se dá exatamente para valorizar as peças já lançadas e ratificar ao consumidor que essa história de 4 ou 6 coleções anuais consiste apenas num apelo de marketing o qual gera desejos desnecessários de consumo. Podemos também encontrar marcas de Moda Sustentável que, ao invés de coleções, lançam suas peças de forma paulatina e em pequenas quantidades ao longo do ano, aqui o motivo reside no fato de suas produções serem feitas à mão e com matérias primas limitadas (exemplo: Upcycling de tecidos garimpados em brechós e de retalhos descartados da grande indústria têxtil).

– Escrevi mais sobre o assunto no post “Slow Fashion: Será que você pratica sem saber?”

Moda Sustentável Jean Yeas I Am

[disclaim]Foto: YESIAM JEANS, da designer paulistana Raquel Ferraz, a marca aplica o Slow Fashion a seus jeans atemporais, duradouros e com modelagem perfeita. Tecidos de alta qualidade, com silhuetas clássicas e cartela de cor neutra, diminuindo a necessidade de produtos químicos nos processos de lavanderia e, consequentemente, o impacto ambiental. Cada peça é feita para que possa ser combinada facilmente com qualquer outra. Segundo a marca: “Temos um mandamento: que o consumidor esteja sempre consciente do que está comprando, que invista em um produto atemporal e duradouro. Nossos produtos são produzidos no Brasil, com mão de obra humanizada e qualificada. Somos a necessidade de vestir por trás do efêmero.”[/disclaim]

Moda Sustentável: Mudança de postura – Lowsumerism

Sustentabilidade é cíclica. Não podemos deixar nas mãos das empresas toda a responsabilidade, a mudança também deve vir de nós. Aprender o que é Moda Sustentável é apenas uma parte, aprender a consumi-la de forma sustentável é um caminho individual.

Saber distinguir entre desejo e necessidade, perguntar-se se realmente há a necessidade de uma nova compra, olhar seu guarda-roupas com olhos racionais e imaginar novas peças e novas combinações a partir daquilo que você já possui, passar para frente as peças paradas para fazer a energia fluir, etc – Tais atitudes não virão das marcas de moda sustentável, mas sim da nossa mudança de postura para com a sustentabilidade aplicada à moda.

Aqui tangemos a questão do lowsumerism, movimento que surge como contraponto ao consumismo o qual implica em, basicamente, três atitudes: pensar antes de comprar, buscar alternativas de menor impacto socioambiental e aprender a viver somente com o que é necessário. É claro que o lowsumerism é uma opção difícil tendo em vista nosso modelo econômico, mas tenham em mente que não é preciso radicalismos. Todo conceito pode – e deve – ser adaptado aos nossos gostos e necessidades

– Saiba mais sobre o assunto em “Lowsumerism e a Busca do Verdadeiro Eu”. 

Moda Sustentável o que é

Este post é apenas uma pequena prévia do que é a Moda Sustentável, ainda há muito a ser abordado e explorado acerca do tema. Vamos aprender juntos? 🙂

Beijos Mil, Karina Viega
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Tiê moda sustentável

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