Conheça o trabalho inspirador dos fotógrafos: Guy Bourdin, David LaChapelle, Tim Walker, Oleg Oprisco, e Miles Aldridge – profissionais que encabeçam a minha lista de “Os Melhores Fotógrafos” nas categorias Fine Art e Fashion Photography. Artigo especial para quem ama fotografia, moda e arte.
Top 5: Alguns dos melhores fotógrafos de moda e belas artes do século
Eis aqui cinco fotógrafos cuja peculiaridade e vanguardismo de seus trabalhos os carregam a um limiar tão tênue entre moda e belas artes (ou, em nomenclatura anglo-saxônica, Fashion e Fine Art Photography) que taxá-los apenas como fotógrafos-de-moda seria uma heresia. Seus trabalhos, embora possuam cunho comercial, são dotados de uma visão tão inovadora que facilmente nos abstraímos do objeto/idéia à venda por trás das imagens. Suas imagens são tão envolventes e eloqüentes que passear por suas galerias de fotos me é análogo à leitura de belos poemas. Assim sendo, por certo alguma comparação literária insurgirá ao longo deste artigo. Assim sendo, espero que seus trabalhos lhes inspirem tanto quanto me inspiram, pois apenas ao olhar suas fotografias o lirismo em mim aflora. Caso nada disso aconteça, bom, ao menos constam abaixo belas fotografias para você compartilhar em suas redes sociais quando quiser dar uma de intelectual…
[warning]Algumas das imagens abaixo possuem conotação sexual e brincadeiras com ícones religiosos que talvez não sejam condizentes com as crenças e gostos de alguns leitores. Portanto, tenham em mente que nada disso vem com intuitos de ofender. Tais fotografias são plenamente contemplativas, ou seja, valores éticos e/ou comportamentais não estão em cheque neste artigo.[/warning]
Guy Bourdin: Loucura, hedonismo, e saturação de cores
“Visual assassin of the highest order”; uma das influências mais duradouras da fotografia contemporânea. Autodidata, exigente, maníaco, independente, hedonista, cruel com as modelos e cercado por tragédias pessoais: mãe abusiva, esposa e namorada suicida. Guy Bourdin é um personagem tão misterioso quanto as histórias contadas em suas imagens.
O francês Guy Bourdin (1928-1991) retratou com maestria o limiar entre o sublime e o grotesco. Seus cliques dramáticos, fragmentários e intensos emanam sarcasmo, humor negro e tensão erótica. Suas fotos são reconhecíveis à primeira vista pela presença de cores hipersaturadas adquiridas apenas por técnicas de iluminação (não havia artifícios como Photoshop na época) e também pelas poses inesperadas das modelos em composições cujo objetivo não era embelezar, mas sim perturbar e quebrar com os padrões de beleza convencionais adotados nas típicas campanhas comerciais de moda.
Suas fotografias icônicas foram veiculadas por grandes revistas de moda, em 1955 publicou pela primeira vez na Vogue e assim continuou, encabeçado o time de fotógrafos dessa revista por mais de 30 anos, introduzindo pela primeira vez em editoriais de moda a idéia de apresentar uma história interna como motor de séries fotográficas.
Vários artistas foram literalmente infectados pelo trabalho de Guy Bourdin, entre eles o cineasta Luis Buñuel, os fotógrafos Man Ray e David LaChapelle (quem também está aqui no TOP 5). Aliás, em 2003 Jean-Baptiste Mondino, outro que bebeu nas águas de Guy, foi processado por plágio pelo filho de Bourdin pela produção do vídeo clipe da canção Hollywood de Madonna no qual alguns elementos foram recriações de fotografias de Guy Bourdin.
Assim como o escritor Kafka, Guy Bourdin não estava interessado na apresentação póstuma de seus trabalhos e ordenou a destruição total dos mesmos no momento de sua morte. God Bless seu filho não deu ouvidos ao pedido e nos últimos anos permitiu várias publicações e apresentações do artista, incluindo a composição do livro “Exhibit A”, a mais completa coleção biográfica de Bourdin até o momento, livro publicado 10 anos após sua morte.
Pela sua exibição tardia e influência sobre os fotógrafos contemporâneos, tomo a liberdade de colocar Guy Bourdin entre os melhores do século.
Guy Bourdin morreu de câncer em 1991, apenas aos 62 anos de idade.
[disclaim]Conheça mais sobre o trabalho de Guy Bourdin no site oficial AQUI.[/disclaim]
David LaChapelle: Humor, ironia, surrealismo, e hipercomposição
Não há como olhar o conjunto da obra de David LaChapelle sem que suas imagens sobrecarregadas nos remetam ao surrealismo de Renè Magritte, ao País das Maravilhas de Lewis Carrol e, principalmente, à hipercomposição de elementos sagrados e profanos do tríptico “O Jardim das Delícias Terrenas” do pintor Bosch (1450–1516).
Retratação do absurdo, iconografias religiosas em contexto profano, exagero de cores intensas na luminosidade e constantes no contraste, saturação de elementos, posses e situações inesperadas: a força motriz de LaChapelle é tão única que, assim como ocorre com Guy Bourdin, seu trabalho é facilmente reconhecido à primeira vista.
Por certo é um dos fotógrafos contemporâneos que mais se doam à fase de composição de elementos e cores, até o mais ínfimo pormenor é meticulosamente pensado em suas fotografias, nada está ali por acaso, nada é espontâneo, seus modelos chegam ao ponto de parecerem objetos estáticos, porém dotados de glamour e brilho, a pele de seus personagens configura um meio de contraposição às cores que os rodeiam.
Uma característica digna de nota é sua capacidade de acarretar estranheza ao olhar. A temática do fotógrafo norte americano LaChapelle nos mostra imagens inéditas ao cérebro, coloca pessoas em situações opostas às do mundo real, seus personagens sempre encontram-se deslocados no tempo e espaço em atividades e/ou posturas fora do habitual.
Outra constante no trabalho do fotógrafo é a temática sexual, contudo o sexo não é apresentado de forma explicitamente gratuita, mas sim implícita num contexto fortemente apurado.
Como se já não fosse vanguardismo suficiente, David LaChapelle doou às suas fotos efeitos inéditos na era da pré-informatização, pois foi um dos pioneiros da manipulação digital de imagens.
[disclaim]Conheça mais sobre o trabalho de David LaChapelle no site oficial AQUI.[/disclaim]
Tim Walker: Fantasia e escapismo
Ao passo em que David LaChapelle reproduz uma Wonderland digna dos escritos de Lewis Carrol, o fotógrafo britânico Tim Walker constrói seu próprio País das Maravilhas. Segundo o fotógrafo: “O mundo que retrato não é a realidade. É uma fantasia, um entretenimento para provocar algo nas pessoas, seja isso escapismo ou alívio. Eu acho muito válido.”
Embora o surrealismo esteja arraigado em suas imagens, não observamos a saturação de cores nem a hipercomposição de elementos característicos dos dois fotógrafos citados anteriormente, as fotografias de Tim possuem um equilíbrio peculiar, uma composição limpa cujo objetivo é ressaltar o elemento principal mesmo quando circundado por um cenário notoriamente elaborado onde objetos gigantescos estão presentes com freqüência. O surrealismo de Walker nos remete ao lirismo onírico dos sonhos ideais, sonhos que não pendem ao pesadelo.
Podemos resumir o trabalho do fotógrafo com a seguinte frase: Tim Walker é um contador de histórias.
Seus famosos editorias de moda publicados em grandes revistas como Vogue (Itália e America), Vanity Fair, W e The New Yorker nos carregam a um mundo de fantasias onde facilmente esquecemos-nos do objeto e/ou idéia à venda por de trás de tamanho lirismo. Não é à toa que um de seus principais trabalhos chama-se exatamente “Story Teller”.
Aliás, o próprio Walker explica com maestria a sua estética por meio de um conto publicado tanto no livro quanto na exposição Story Teller:
“Quando eu penso sobre minha fotografia, eu penso em uma sala secreta. Ninguém sabe aonde é esta sala, pois ela está escondida no topo de uma torre em uma casa muito antiga. Mesmo que eu já tenha estado por lá, não consigo sempre encontrar-la novamente, mas se minhas intenções forem verdadeiras e minha mente estiver limpa, posso encontrar-me a subir a mesma escada de pedra em espiral que me leva até a próxima porta, que me leva à outra porta, e talvez a outra porta. Às vezes as portas estão fechadas, às vezes estão abertas.
Uma vez lá dentro, a sala em si é vazia, porém estofada até o teto, parede a parede, em um veludo profundamente negro. No alto, no canto mais distante da porta, há uma pequena janela retangular com um pequeno obturador preto altamente arqueado o qual se abre e fecha com um barulhento “CLAP!” Cuidado, tal barulho pode arrebatar-lhe de assalto. De alguma forma, na ponta dos pés, eu consigo olhar para fora da janela e encontrar uma visão de tamanha magnificência que fico cambaleando por sua beleza ao ponto de precisar desviar o olhar.
Uma rajada de vento de repente pega e rasga a cena, reorganizando tudo. Neste momento… eis que o obturador (sobre o qual eu avisei) se fecha com o mesmo ensurdecedor “CLAP!” O som assusta as pessoas abaixo, as quais por sua vez voltam-se para olhar para mim, e se você os ver olhando para mim, você me veria como um menino olhando para baixo.”
*Livre tradução.
Além de editoriais de moda, Tim Walker é responsável por retratos icônicos de personalidades como Alexander McQueen, Tilda Swinton, Vivienne Westwood, Scarlett Johansson e Monty Python.
[disclaim]Conheça mais sobre o trabalho de Tim Walker no site oficial AQUI.[/disclaim]
Oleg Oprisco: Sonhos entre quimeras mil
Aqui passamos do surrealismo ao realismo fantástico.
Observar as obras de Oprisco traz-me sensações análogas à leitura de autores como Gabriel José García Márquez, Saramago e Manoel de Barros. O mundo de Oprisco é mágico, lúdico, onírico, leve, tão leve que por vezes parece-me que suas fotografias irão esvanecer caso eu despenda muito tempo olhando-as fixamente.
O trabalho deste fotógrafo ucraniano de apenas 23 anos não é voltado a editoriais de moda, e sim a mais pura e bela forma de belas artes: a simplicidade de artifícios.
Embora as fotografias de Oleg apresentem complexa elaboração de cenários, nenhuma delas contém manipulações digitais em Photoshop. Para atingir os resultados mostrados, cada fotografia demanda dias de produção manual feita prioritariamente pelo próprio artista sem equipes nem produções de terceiros e com adereços adquiridos em brechós.
Por incrível que pareça, seu principal instrumento de trabalho são as antigas e analógicas câmeras Kiev 6C e Kiev 88 as quais custam em média R$ 100 cada. Segundo Oprisco: “Utilizo filme de médio formato. É difícil de explicar em poucas palavras. É um sistema diferente. Eu fotografo em cliques para 12 frames e aprecio a importância de cada um. Trabalho cuidadosamente cada quadro. Este é um processo fantástico. Pressiono o botão do obturador, mas não sei o que acontecerá. Esta é a real magia.”
[disclaim]Conheça mais sobre o trabalho de Oleg Oprisco no site oficial AQUI.[/disclaim]
Miles Aldridge: Obsessão, mulheres, neuroses, e explosão de cores
Filho do designer gráfico Alan Aldridge, este fotógrafo londrino cresceu acostumado às celebridades; John Lennon era um amigo da família, assim como Eric Clapton e Elton John.
Glamour, mulheres, cores, donas de casa atordoadas e belezas decadentes configuram absolutas obsessões de Miles Aldridge. Todavia, o onírico mundo technicolor retratado em suas imagens com modelos aparentemente perfeitas em suas expressões nulas guarda uma profunda conotação de perturbação e neurose. Ao apurar o olhar, percebemos gritos silenciosos. Se, ao invés dos clássicos traços europeus, as mulheres de Miles apresentassem uma beleza hispânica, suas fotografias pareceriam frames dos filmes de Almodóvar.
O trabalho de Aldridge nunca foi limitado pelas exigências do mundo da moda. Sua visão é ampla. Suas muitas influências incluem cineastas como David Lynch e Federico Fellini; o estilo elegante do fotógrafo de moda Richard Avedon e as ilustrações psicodélicas de seu pai, Alan Aldridge. Cada imagem é impecavelmente trabalhada, muitas vezes começando com desenhos story-board para que a imagem final adquira ares limítrofes entre cinema e fotografia.
Aldridge publicou seu trabalho em diversas revistas influentes, incluindo Vogue Itália e Americana, Numéro, The New York Times e The New Yorker. Seu trabalho foi apresentado em 2009 no Centro Internacional de Fotografia em Nova York com a exposição Weird Beauty, e possui obras na coleção permanente nos acervos da National Portrait Gallery e do Victoria & Albert Museum.
[disclaim]Conheça mais sobre o trabalho de Miles Aldridge no site oficial AQUI.[/disclaim]
Pronto, aqui estão alguns dos melhores fotógrafos de moda e belas artes do século. Entre eles, qual é o seu predileto: Guy Bourdin, David LaChapelle, Tim Walker, Oleg Oprisco, ou Miles Aldridge?
Beijos Mil, Karina Viega
karinaviega@acordabonita.com
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[question]Gosta do Acorda, Bonita!?
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Karina cadê meu curso preferido de automake? Posta as aulas todas pra gente plisss! Amo seu curso…
Carol!
Continuarei com o curso sim!
Apenas estou numa fase em que preciso dividir com vocês meus outros amores, como arte, fotografia, literatura, música…
Quem sabe assim este processo criativo estancado seja liberado 😉
Beijos mil!
Olá! Adorei as fotos e gostei mais das do Oleg Oprisco. Parabéns pelo site, estou amando seus posts.
Bem o que eu queria perguntar era que percebi que você é capixaba igual eu. Gostaria de saber onde você corta o cabelo. Sei que talvez essa seja uma pergunta repetida mas é que eu não achei um post a respeito. Desde já obrigada! ^.^
Rai, também adoro o trabalho do Oprisco…
Bom, sendo bem sincera, na maioria das vezes corto meu cabelo sozinha :/ É tão complicado encontrar um profissional que entenda de cabelos cacheados aqui no ES…
Há dois que adoro, a Cida Carvalho (de Cachoeiro) e o Kaká (de Vilha Velha), tenho um artigo com o Kaká em}: http://www.acordabonita.com/2013/01/a-transformacao-capilar-da-ka-parte-1-corte-com-hair-stylist-kaka-domingues/
Bom pelo jeito eu já apreciava o trabalho do Tim Walker, porque conheço e aprecio diversas das fotos postadas, só não sabia o nome do autor. E agora me afeiçoei por demais ao trabalho do Oleg, realmente pura mágica.
(Bourdin e LaChapelle já são clássicos até para pessoas leigas na arte da fotografia, como eu.)
Leticia, concordo contigo em cada palavra!
Adorei o post! Não conhecia o trabalho dos fotógrafos, fiquei especialmente tocada com o Tim Walker. Parabéns pelo conteúdo do blog!
Obrigada, Mari!
O Tim é o máximo, né? ^^